Quando eu tinha 11 anos, meu pai voltou do médico, reuniu as filhas – minhas irmãs tinham 9 e 8 anos – e disse:
– Tive que assinar um termo de responsabilidade para vir até aqui conversar com vocês. Eles queriam me internar para uma cirurgia de urgência. Eu vim me despedir, mas tenham a certeza de que em poucos dias estarei de volta.
Ele sorriu e nos abraçou e, na maturidade dos meu 11 anos de vida, eu tive a certeza de que o veria de novo. Aquela era a primeira vez que câncer tinha entrado em nossa casa. Custou ao meu pai o baço, muitos fios de cabelo e um incômodo de uma quimioterapia em 1990. Muitos acreditavam que o câncer levaria meu pai naquele ano, e foi sempre comum que amigos o encontrassem na rua, dizendo:
– Você está vivo?! Soube que tinha morrido!…
Ao que meu pai, rindo, respondia:
– Acho que não sou um fantasma! Estou vivo, sim!
Os anos foram passando e meu pai se tornou cada vez mais um herói para mim, para minhas irmãs e para a minha mãe. Mas era um heroísmo que ultrapassava a nossa célula familiar. Um exemplo de educador e ser humano que, tal qual as pétalas de uma rosa ao vento, foi espalhando o seu perfume pelo ar. Ele nunca mais voltou ao médico e sentiu-se curado até 2004, quando apareceu um nódulo em seu pescoço. Era o câncer se manifestando novamente, 14 anos depois. Prestes a completar 70 anos, meu pai voltava das sessões de quimioterapia como se tivesse tomado um antídoto para deixá-lo mais vivo e mais forte. Nos momentos de abatimento, ele nos dizia:
– Não se preocupem, eu vou viver 120 anos!
E o dizia com tanta convicção que, mais uma vez, eu tinha a certeza de que meu pai era (e é) imortal. Em dezembro de 2009, minha perplexidade não foi pela sua morte, mas por ele não conseguir cumprir a sua meta. Até então, ele sempre havia conseguido. Sempre voltava mais forte de cada internação. Naquele dia, tudo o que pensei foi que meu pai merecia viver mil anos, mas ter vivido meus primeiros 30 anos ao seu lado já foi suficiente para iluminar toda a minha vida. Sou muito grata pelos anos que passamos juntos e, agora, consigo entender que ele ainda há de cumprir o prometido. Após uma enorme aceitação de alunos, pais, funcionários e professores, o Colégio assumirá o nome desse homem, desse educador que tanto marcou a história de nossa escola. Nosso Colégio passará a se chamar: Colégio Nahim Ahmad.
Pai, cada vez que um aluno estudar para uma prova e vencer um desafio, ou que uma criança descobrir em si um talento escondido, você viverá. Cada vez que um atleta se superar e conquistar uma medalha, ou que um músico de nossa orquestra ou de nossa banda entoar uma música, você viverá. Cada vez que um professor transmitir um conhecimento e cada vez que a educação acontecer entre os muros deste colégio, você viverá… Seu sonho continua! Pai, eu sabia que você não iria me decepcionar. Você continua vivo no semblante de cada um de nossos alunos, professores e funcionários. Este será o primeiro de, no mínimo, 120 anos, como você prometeu!